terça-feira, 20 de março de 2018

SEMANA DA LEITURA - Dia 19 de março

Todos a ler


Sugestão de leitura para o Pré-escolar e 1.º ano de escolaridade



Era um livro muito activo
Mas fechado numa estante;
O dono tinha crescido,
Morando em terra distante.
Era um livro inconformado
Por nada poder fazer,
Pois ali encafuado
Ninguém o podia ler.
E se desse um abanão
E conseguisse sair?
Assim o fez e, no chão
Foi cair logo a seguir.
“Que faço no chão da casa?”
E pensando em ir-se embora,
Fez das folhas asas
E saiu janela fora!
Nas nuvens planou, voou,
Com as folhas a dar a dar.



Deu piruetas, rebolou,

Virando as capas p’ro ar.
E lá de cima, sozinho

Viu um menino a chorar. 
- “Porque choras meu menino?”
- “Não tenho com quem brincar!”
- “Vou então brincar contigo,
Ler-te histórias das minhas.”
Um livro é sempre um amigo.
E foi lendo algumas linhas.
Estava a criança encantada
E assim, sem dar por isso,
Foi chegando a pequenada
Atenta e sem reboliço.
Brincaram todos contentes,
O livro ficou feliz,
E saiu discretamente
Deixando entregue o petiz.
Voou, voou e outra vez
Alimentou essa esperança
De poder trazer, talvez,
Felicidade a outra criança.

Excerto retirado de:
História do livro activo de Conceição Areias


Sugestão de leitura para o 7º e 8º anos

A escolha de um poeta
No dia da escolha, fomos a uma loja, eu e o pai. O pai não é alto, e eu tampouco, aliás, é por isso que na escola me chamam ordenado mínimo, que é algo que já existiu em tempos, mas que felizmente foi extinto, porque, dizem, era um entrave à competitividade mais elementar. Na loja havia poetas de muitos tipos, baixos, altos, louros, com óculos (são mais caros), sendo a maior parte, sessenta e dois por cento, carecas, e sessenta e oito por cento de barba.
Gostei de um que era ligeiramente marreco, uma escoliose com uma curvatura oblonga. Trajava um colete de fazenda, setenta e cinco por cento lã, sendo os restantes vinte e cinco nylon, calças de bombazina castanhas, pantone setecentos e trinta e dois, sapatos de couro já muito usados. Fungava e tinha um livro debaixo do braço. Nenhuma das suas roupas tinha patrocínio de marcas.
O pai cumprimentou o vendedor com a cortesia destas ocasiões, há sempre uma grande solenidade, sacralidade, no ato de iniciar um possível negócio:
Que os números lhe sejam favoráveis, disse ele. Prosperidade e crescimento, respondeu o vendedor.
O pai apontou para o poeta que fungava e não tinha patrocínio nas roupas e perguntou se aquele exemplar era subversivo, que é a característica mais temida nos poetas, é o equivalente à agressividade dos cães.
O senhor da loja respondeu:
Está abaixo dos dois por cento. É sempre necessário serem um pouco subversivos ou a qualidade poética baixa demasiado e não gera lucro, ninguém compra, acabam preteridos a bailarinos ou hamsters.
O que é que ele come?
 Qualquer coisa. Não são muito esquisitos, muitas vezes, três a quatro ocorrências por nylon, calças de bombazina castanhas, pantone setecentos e trinta e dois, sapatos de couro já muito usados. Fungava e tinha um livro debaixo do braço. Nenhuma das suas roupas tinha patrocínio de marcas. O pai cumprimentou o vendedor com a cortesia destas ocasiões, há sempre uma grande solenidade, sacralidade, no ato de iniciar um possível negócio: Que os números lhe sejam favoráveis, disse ele. Prosperidade e crescimento, respondeu o vendedor. O pai apontou para o poeta que fungava e não tinha patrocínio nas roupas e perguntou se aquele exemplar era subversivo, que é a característica mais temida nos poetas, é o equivalente à agressividade dos cães. O senhor da loja respondeu: Está abaixo dos dois por cento. É sempre necessário serem um pouco subversivos ou a qualidade poética baixa demasiado e não gera lucro, ninguém compra, acabam preteridos a bailarinos ou hamsters. O que é que ele come? Qualquer coisa. Não são muito esquisitos, muitas vezes, três a quatro ocorrências por semana, chegam inclusivamente a esquecer-se de comer. Alguns abandonam a refeição a meio e levantam-se para deambular sem qualquer destino. Acontece muito ao pôr-do-sol ou ao luar ou com nevoeiro, é um comportamento típico. Não estranhem se os virem parados muito tempo como se estivessem a fazer contas. Não estão, são incapazes da soma mais elementar. Essas paragens são precisamente os momentos em que começam a fazer poemas nas suas cabeças. É um processo fascinante. Não se irão arrepender de comprar um poeta. E são muito mais asseados do que os artistas.
Já tinha ouvido dizer.
 Mais alguma coisa que devamos saber sobre a manutenção de um destes exemplares?, inquiri eu.
Para o entreter, compre-lhe cadernos com folhas brancas e canetas. Pode também adquirir alguns livros. Temos de várias marcas.

Afonso Cruz

“Vamos comprar um poeta”



Vamos ao cinema!

  Exibição do filme "O rapaz do pijama às riscas"









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