Todos a ler
Sugestão de leitura para o
Pré-escolar e 1.º ano de escolaridade
Era um livro muito activo
Mas fechado numa estante;
O dono tinha crescido,
Morando em terra distante.
Era um livro inconformado
Por nada poder fazer,
Pois ali encafuado
Ninguém o podia ler.
E se desse um abanão
E conseguisse sair?
Assim o fez e, no chão
Foi cair logo a seguir.
“Que faço no chão da casa?”
E pensando em ir-se embora,
Fez das folhas asas
E saiu janela fora!
Nas nuvens planou, voou,
Com as folhas a dar a dar.
Deu piruetas, rebolou,
Virando as capas p’ro ar.
E lá de cima, sozinho
- “Porque choras meu menino?”
- “Não tenho com quem brincar!”
- “Vou então brincar contigo,
Ler-te histórias das minhas.”
Um livro é sempre um amigo.
E foi lendo algumas linhas.
Estava a criança encantada
E assim, sem dar por isso,
Foi chegando a pequenada
Atenta e sem reboliço.
Brincaram todos contentes,
O livro ficou feliz,
E saiu discretamente
Deixando entregue o petiz.
Voou, voou e outra vez
Alimentou essa esperança
De poder trazer, talvez,
Felicidade a outra criança.
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Excerto retirado de:
História do livro activo de Conceição Areias
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Sugestão de leitura para o 7º e 8º anos
A escolha de um poeta
No dia da
escolha, fomos a uma loja, eu e o pai. O pai não é alto, e eu tampouco, aliás,
é por isso que na escola me chamam ordenado mínimo, que é algo que já existiu
em tempos, mas que felizmente foi extinto, porque, dizem, era um entrave à
competitividade mais elementar. Na loja havia poetas de muitos tipos, baixos,
altos, louros, com óculos (são mais caros), sendo a maior parte, sessenta e
dois por cento, carecas, e sessenta e oito por cento de barba.
Gostei de
um que era ligeiramente marreco, uma escoliose com uma curvatura oblonga.
Trajava um colete de fazenda, setenta e cinco por cento lã, sendo os restantes
vinte e cinco nylon, calças de bombazina castanhas, pantone setecentos e trinta
e dois, sapatos de couro já muito usados. Fungava e tinha um livro debaixo do
braço. Nenhuma das suas roupas tinha patrocínio de marcas.
O pai
cumprimentou o vendedor com a cortesia destas ocasiões, há sempre uma grande
solenidade, sacralidade, no ato de iniciar um possível negócio:
Que os
números lhe sejam favoráveis, disse ele. Prosperidade e crescimento, respondeu
o vendedor.
O pai
apontou para o poeta que fungava e não tinha patrocínio nas roupas e perguntou
se aquele exemplar era subversivo, que é a característica mais temida nos
poetas, é o equivalente à agressividade dos cães.
O senhor da
loja respondeu:
Está abaixo
dos dois por cento. É sempre necessário serem um pouco subversivos ou a
qualidade poética baixa demasiado e não gera lucro, ninguém compra, acabam
preteridos a bailarinos ou hamsters.
O que é que
ele come?
Qualquer coisa. Não são muito esquisitos,
muitas vezes, três a quatro ocorrências por nylon, calças de bombazina
castanhas, pantone setecentos e
trinta e dois, sapatos de couro já muito usados. Fungava e tinha um livro
debaixo do braço. Nenhuma das suas roupas tinha patrocínio de marcas. O pai
cumprimentou o vendedor com a cortesia destas ocasiões, há sempre uma grande
solenidade, sacralidade, no ato de iniciar um possível negócio: Que os números
lhe sejam favoráveis, disse ele. Prosperidade e crescimento, respondeu o
vendedor. O pai apontou para o poeta que fungava e não tinha patrocínio nas
roupas e perguntou se aquele exemplar era subversivo, que é a característica
mais temida nos poetas, é o equivalente à agressividade dos cães. O senhor da
loja respondeu: Está abaixo dos dois por cento. É sempre necessário serem um
pouco subversivos ou a qualidade poética baixa demasiado e não gera lucro,
ninguém compra, acabam preteridos a bailarinos ou hamsters. O que é que ele
come? Qualquer coisa. Não são muito esquisitos, muitas vezes, três a quatro
ocorrências por semana, chegam inclusivamente a esquecer-se de comer. Alguns
abandonam a refeição a meio e levantam-se para deambular sem qualquer destino.
Acontece muito ao pôr-do-sol ou ao luar ou com nevoeiro, é um comportamento
típico. Não estranhem se os virem parados muito tempo como se estivessem a
fazer contas. Não estão, são incapazes da soma mais elementar. Essas paragens
são precisamente os momentos em que começam a fazer poemas nas suas cabeças. É
um processo fascinante. Não se irão arrepender de comprar um poeta. E são muito
mais asseados do que os artistas.
Já tinha
ouvido dizer.
Mais alguma coisa que devamos saber sobre a
manutenção de um destes exemplares?, inquiri eu.
Para o
entreter, compre-lhe cadernos com folhas brancas e canetas. Pode também
adquirir alguns livros. Temos de várias marcas.
Afonso
Cruz
“Vamos comprar um poeta”
Vamos ao cinema!
Exibição do filme "O rapaz do pijama às riscas"
Exibição do filme "O rapaz do pijama às riscas"
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